terça-feira, setembro 06, 2005

FC Porto e os laterais esquerdos

A cedência de Leandro ao Cruzeiro, seu clube de origem, é o ultimo episódio de uma longa novela na lateral esquerda do FC Porto.
O inicio pode até ser o reinado de José Mourinho, que "fabricou" um titular no FC Porto e na selecção nacional a partir do improvável Nuno Valente, um jogador que não tinha sido aproveitado no Sporting. Mas Mourinho também encostou Mário Silva, que passou meses a fio fora das convocatórias e foi preterido por... Ricardo Costa, quando era necessário substituir Nuno, o que aconteceu com alguma frequência devido a lesões mais ou menos graves e lançou Hugo Luz nos ultimos jogos de 02/03.
Mário Silva iria terminar o seu longo calvário com uma transferencia para a segunda liga espanhola. Hugo Luz iria falhar no empréstimo ao Gil Vicente e anda hoje pela segunda liga lusa.
Descartados estes dois após a saída do sadino, o FC Porto contratou Rossato e Areias. O primeiro foi vendido para Espanha pouco depois, de forma surpreendente. Uma lesão impediu-o de mostrar serviço e este ano está em... Braga. O segundo deu ideia de poder ser opção regular até Mourinho o humilhar tacticamente no jogo contra o Chelsea nas Antas, onde Areias só era marcado quando passava do meio campo defensivo mas mesmo assim não criava qualquer perigo. O resto da carreira deste portista no clube do seu coração foi um penoso arrastar até à transferência para o Boavista, onde é suplente. Chega-se à conclusão que dificilmente teria sido pior promover Vitor Rodrigues, titular na equipa B no ano anterior e que apesar de cumprir o seu ultimo ano de contrato escondido no Tourizense, viria a tornar-se opção regular na selecção sub-21. Mesmo assim, o FC Porto deixou terminar o contrato e preferiu fazer regressar Areias para novo teste mal sucedido...
E porque motivo jogou Areias contra o Chelsea? Porque Nuno Valente se lesionou com extrema gravidade na selecção. Uma lesão ligamentar semelhante às de Mantorras ou Delfim. Para agravar o cenário, a selecção não libertou o jogador de imediato e nunca entregou as radiografias com que poderia justificar essa decisão.
Com Nuno Valente lesionado para longos meses e Areias sem nivel para o clube, foi decidido contratar. Com todo o tempo do mundo para o fazer, conseguiu-se errar em toda a linha: Leandro. Um suposto candidato à selecção Brasileira com fama de "bom no ataque" que nunca justificou e que mostrou frequentemente uma inacreditável ingenuidade a defender. Vem à memória a forma como punha os adversários em jogo na sua estreia ou a forma como poderia ter deitado a perder um campeonato ou um acesso à liga dos campeões ao ser batido e não fazer falta nos minutos finais do ultimo jogo da época.
Co deu-lhe a titularidade no inicio desta época, mas após sucessivos erros graves, preferiu arriscar com César Peixoto. Uma adaptação que está a ser uma agradável surpresa e que acabou por justificar a dispensa do Brasileiro, que regressou ao Cruzeiro, sonhando ainda com a presença no mundial.
Na mesma altura em que encostou Leandro, e certamente não por coincidência, Co denunciou a situação de Nuno Valente. Ficou então a saber-se que Nuno não jogava porque não aceitava optar pelo clube em detrimento da selecção. Na minha opinião, fê-lo por estar convencido que o Brasileiro não dava conta do recado. Mesmo assim, a situação arrastou-se até final do periodo de inscrições e só foi desbloqueada com a entrada em cena do Everton, que ao pagar 3 milhões de euros pelo internacional Portugês com 30 anos e um joelho problemático, proporcionou uma saída airosa para todas as partes.
Com o periodo de inscrições a terminar, o plantel seria completado com Marek Cech, um ainda jovem mas relativamente experiente lateral, que no entanto não tinha ainda jogado pelo Sparta de Praga o que poderá ser a razão para o regresso à selecção sub-21 depois de meia duzia de jogos na selecção principal.

A dispensa de Leandro constitui também um sinal de confiança em César Peixoto e até em Jorge Lopes (que já foi chamado ao plantel principal para um jogo particular). Parece-nos claro que o clube está a correr riscos, pois nenhum dos três candidatos ao lugar (César Peixoto, Marek Cech e Jorge Lopes; parece claro que no entender de Adriaanse, Ricardo Costa faz falta no centro) é uma solução 100 % fiável. São porem riscos "bons", pois tem a ver com a aposta em jogadores jovens e com margem de progressão.