sexta-feira, setembro 03, 2004

Entrevista de Domingos n'A Bola (3/9/04)

O treinador da equipa B, Domingos Paciência, dá uma interessante entrevista.

— Entrou de pé direito no campeonato da II Divisão B, com uma vitória sobre o Lixa. Muitos nervos antes da estreia?
— Normalmente, não deixo transparecer os meus estados de espírito, mas era o meu primeiro jogo oficial. Não estava nervoso, mas senti uma grande ansiedade que, com o desenrolar do encontro, foi passando. No final, fiquei feliz pela vitória. Foi muito importante começar o campeonato com um triunfo. As vitórias moralizam e para os meus atletas foi muito positivo termos vencido o Lixa.
— Treinar a equipa B é um desafio à medida de quem tem o saudável vício de vencer? —Este escalão, como costumo dizer, é o mais difícil de todos por ser o mais perigoso. Os jogadores são jovens e estão naquela fase de transição entre as camadas de formação e a equipa principal. É uma fase em que se pode ou não dar um grande salto na carreira e isso implica um trabalho bastante cuidadoso. Trata-se de um momento crucial na carreira de um futebolista e quem orienta estes jogadores já sabe que a responsabilidade é enorme. Tenho noção disso e a tarefa que me foi confiada agrada-me bastante, é um desafio que, naturalmente, espero ser capaz de vencer.
— Também é uma missão de alguma ingratidão ter de escolher quem é capaz de ascender a um plano tão elevado como é jogar na equipa principal?
— Sim, também é uma missão um pouco ingrata por isso, mas a equipa B é como se fosse um derradeiro teste às capacidades de quem transita das camadas de formação para a equipa principal ou para outros clubes que disputam o campeonato principal. Quem chega aqui já sabe que esta é uma fase complicada e que nem todos podem seguir o mesmo caminho. Isso faz parte das circunstâncias do futebol e até é bom que exista uma equipa B porque, dessa forma, o fosso que separa os juniores da equipa principal não é tão grande.
— Ainda é cedo para avaliar com precisão a equipa que comanda, mas já sente que o seu grupo de trabalho poderá ser um grande fornecedor de talentos da equipa A?
— Tenho valores no plantel que podem vir a ser jogadores de grande nível. Para além de ainda estarmos no começo do trabalho que pretendemos realizar, é importante vincar bem que os meus jogadores ainda são muito jovens, estão em idades compreendidas entre os 16 e os 20 anos, pelo que a margem de progressão que têm pela frente é enorme. Penso que há tempo para eles pensarem em outros voos. Por agora, devem concentrar-se no trabalho que pretendemos fazer, concluir da melhor forma a formação a que têm vindo a sujeitar-se. Esta é uma equipa completamente nova, tem muita qualidade e, todos juntos, vamos fazer por aproveitar bem essa qualidade.

Adoro o meu trabalho

— Este é o seu primeiro ano como treinador principal. Como encara a responsabilidade de, como diz, orientar jogadores em fase crucial das respectivas carreiras?
— Adoro o meu trabalho. Sinto-me motivadíssimo porque faço uma das coisas que mais gosto. Para mim e para os jogadores, esta experiência é muito enriquecedora e trabalhamos como se estivéssemos a jogar ao mais alto nível, como se fôssemos a equipa principal. Essa é uma filosofia que, na minha perspectiva, serve bem o interesse do clube na existência da equipa B.
— Trata-se, portanto, de um ponto de partida ideal para quem inicia a carreira de treinador?
— Sim, para mim é muito positivo começar a carreira desta forma porque tenho oportunidade de ganhar uma experiência que até mesmo nos cursos dificilmente se vive. Estar à frente de uma equipa B dá-me outra bagagem como treinador.
— E no desempenho desta função, segue as ideias de alguém em particular? Há algum treinador que represente um ídolo para o Domingos?
— Por coincidência, está agora no FC Porto um dos treinadores que mais aprecio, o Victor Fernandez. Fui jogador dele no Tenerife e, apesar de ele não ter sido bem sucedido nesse clube como certamente desejava, os métodos do Victor agradam-me bastante. Enquanto jogador, foi um treinador que me marcou imenso e, por isso, penso que o FC Porto fez uma excelente escolha ao contratá-lo. Mas há outro treinador que também aprecio muito, Juan Manuel Lilla, que também foi meu técnico no Tenerife. Os dois marcaram-me bastante.
— Do que conhece de Fernandez, pensa que vai aproveitar bastante o trabalho do Domingos na equipa B?
— Esse é um dos meus objectivos, mas compreendo que, por enquanto, o Victor esteja mais preocupado em estruturar a equipa principal, até porque chegou há pouco tempo. Mas já conversámos várias vezes e, naturalmente, a ligação entre as duas formações existe. Vamos trabalhar para que dela resultem benefícios para o clube.