Entrevista de Domingos em "O Jogo"
O JOGO | Passados cinco meses desde que assumiu o comando técnico do FC Porto B, como avalia a primeira experiência no cargo de treinador principal?
DOMINGOS PACIÊNCIA | Está a correr bem. Não me sinto arrependido de ter aceite o convite e estou muito contente. É um investimento no meu futuro. Sempre pensei ser treinador e tenho aspirações de outro nível, pelo que esta é uma experiência com a qual posso enriquecer profissionalmente. Felizmente, as coisas estão a correr bem.
P | Sabendo-se que o FC Porto B tem de seguir um modelo de jogo instituído, como é que um treinador se adapta a isso e consegue evoluir ao nível táctico?
R | Claro que é preciso não fugir ao modelo adoptado pela equipa principal e depois procurar dentro das características dos jogadores que tenho um sistema de jogo em que possa crescer e evoluir. No entanto, é importante seguir o modelo de jogo e isso condiciona um pouco.
P | É uma limitação?
R | Não é uma limitação. Tenho de pensar como a equipa principal e saber que os jogadores têm de trabalhar dentro desse modelo de jogo.
P | Dentro de pouco tempo poderemos ver um ou mais jogadores da equipa B na equipa principal do FC Porto?
R| No princípio da época analisámos o plantel, que é muito novo, e não sabíamos qual seria a resposta dos jogadores à competição, mas agora, fazendo uma análise após cinco meses de trabalho, vemos que temos jogadores com grande qualidade, entre os 17, 18 e 19 anos. São jogadores como o Bruno Gama, Ivanildo, Paulo Machado, Vieirinha, Pedro Ribeiro, Cristóvão e Akos, entre outros, que podem chegar à equipa principal dentro de pouco tempo.
"Formação sai desfavorecida em função dos interesses da equipa"
P | Estando a equipa principal a competir em várias competições com o objectivo de ganhar, e podendo a SAD comprar jogadores já formados e do nível de Diego e Luís Fabiano, por exemplo, acha que a formação de jogadores sai desfavorecida, ou seja, não é devidamente aproveitada?
R | É evidente que a formação sai desfavorecida em função dos interesses prioritários da equipa. A nossa escola de formação é elogiada há muitos anos e formou jogadores como Fernando Couto, Jorge Costa, Sérgio Conceição e Vítor Baía. A equipa B procura formar atletas para a equipa principal e para o futebol em geral.
P | Quer dizer, o FC Porto investe na formação de jogadores que podem ir para outros clubes?
R | Os interesses do FC Porto estão ao mais alto nível. Há jogadores que podem não servir para o FC Porto mas servem para outros clubes.
P | Tirando a ambição de chegar à equipa principal, como motiva os seus jogadores, uma vez que o FC Porto B não pode subir de divisão?
R | Seria bom podermos subir de escalão, porque a ambição seria outra. Sendo assim, resta-nos a perspectiva de chegar à equipa principal. Não subir de divisão é um problema, mas criar ambição nestes jogadores é fácil. A II Divisão B, zona Norte, é muito competitiva, porque tem jogadores que já passaram pela primeira. É bom para os jogadores crescerem. Mais importante do que ganhar, é formar jogadores para servir o FC Porto. A análise do crescimento é mais importante do que vencer por 10-0.
P | Como ponta-de-lança que foi, e sendo essa uma das lacunas do futebol português, como está a equipa B servida?
R | Temos avançados de grande mobilidade, como o Vieirinha, Bruno Gama e o Ivanildo. É triste, mas a realidade é que o futebol português não tem pontas-de-lança. Não vejo pontas-de-lança que no futuro nos dêem garantias de poderem representar a Selecção Nacional. É uma espécie de ave rara.
P | O FC Porto B também não tem pontas-de-lança?
R | Um ponta-de-lança tem de ter certas características e os últimos a ser formados foram o Hélder Postiga e o Hugo Almeida. O FC Porto B não tem pontas-de-lança, joga com três avançados de grande mobilidade na frente, e somos a segunda equipa com mais golos marcados (38), atrás do Vizela (44). Precisamos de um ponta-de-lança, mesmo para o crescimento dos outros jogadores que jogam na frente.
R | Temos o Pedro Ribeiro, Thiago e Sandro, que são bons centrais, mas ainda têm de crescer e é preciso dar-lhes tempo.
P | Como é o Domingos Paciência treinador?
R | Sou muito ambicioso e quero o melhor para mim. Sei, no entanto, que um treinador vive em função dos resultados e por isso não tem vida fácil. Sou uma pessoa calma e consciente de que tem de liderar um grupo de 25 jogadores. Estou sempre ao lado deles e tenho um lema: máxima liberdade, máxima responsabilidade. O jogador tem de saber estar no momento em que está a jogar. Posso sair com os jogadores e não vejo problema nisso, porque todos merecemos ser felizes. P | A sua forma de ver futebol mudou quando passou a ser treinador?
R | Claro. Quando estou a ver um jogo analiso de outra forma as equipas.